Os círculos de mulheres são uma prática ancestral que remonta às primeiras sociedades humanas, onde as mulheres se reuniam para partilhar experiências, prestar apoio mútuo e transmitir conhecimentos sobre a vida, a fertilidade e a espiritualidade. Essa tradição tem raízes profundas em diversas culturas ao redor do mundo, desde as tribos indígenas da América, onde as mulheres se juntavam em tendas vermelhas para descansar e celebrar a menstruação (Diamant, 1997), até as comunidades africanas e asiáticas, onde os encontros femininos eram essenciais para a coesão social e o bem-estar comunitário (Eisler, 1987).
A Importância Histórica dos Círculos de Mulheres
Antes do surgimento das sociedades patriarcais organizadas, muitas comunidades eram estruturadas de forma mais igualitária, com forte presença do matrifocalismo (Eisler, 1987). Os estudos antropológicos indicam que os grupos de caçadores-coletores viviam em estruturas comunitárias onde o cuidado infantil, a partilha de recursos e a tomada de decisões eram realizadas coletivamente (Hrdy, 2009).
Os círculos de mulheres desempenhavam um papel fundamental nesse contexto, oferecendo apoio emocional e físico durante momentos cruciais como a menstruação, a gravidez, o parto e o puerpério. A arqueóloga Marija Gimbutas (1989) identificou vestígios de cultos femininos na Europa pré-histórica, sugerindo que sociedades antigas reverenciavam a figura feminina e organizavam rituais centrados no sagrado feminino.
A Perdida do Apoio Comunitário e o Isolamento Materno
Com a transição para sociedades agrícolas e, posteriormente, para sociedades industriais, a estrutura social mudou drasticamente. A vida comunitária foi substituída por núcleos familiares pequenos, e as mulheres começaram a assumir a maternidade de forma isolada (Hrdy, 2009). Esse isolamento materno é uma característica marcante da modernidade, que impacta a saúde mental das mulheres e contribui para o aumento da depressão pós-parto (Nelson, 2009).
A frase “É preciso uma vila para criar uma criança” tem origem em provérbios africanos e reflete essa necessidade de suporte coletivo. No passado, as mães tinham redes de apoio naturais—avós, irmãs, vizinhas—enquanto hoje muitas vivem a maternidade sem essa rede essencial. Estudos sobre neurobiologia da maternidade indicam que o suporte social adequado melhora significativamente a regulação emocional das mães e reduz o stress (Feldman, 2015).
O Retorno dos Círculos de Mulheres na Atualidade
Nos últimos anos, temos assistido a um renascimento dos círculos de mulheres como resposta à necessidade urgente de conexão e apoio. Autoras como Jean Shinoda Bolen (1999) exploram como os círculos femininos oferecem um espaço seguro para a expressão emocional, a cura e o empoderamento. Esses encontros ajudam as mulheres a resgatar a sua intuição, a reconectar-se com os ritmos naturais e a reconstruir redes de suporte que foram perdidas na sociedade moderna.
Os círculos também são espaços para discutir temas muitas vezes silenciados, como a sexualidade feminina. Pesquisas sobre sexualidade e bem-estar apontam que a troca de experiências entre mulheres pode melhorar a autoestima, reduzir tabus e promover uma vivência mais saudável da sexualidade (Basson, 2000).
Conclusão: Construindo a Nossa Vila
O isolamento materno não é natural. Durante milhares de anos, as mulheres foram cuidadas por outras mulheres, num fluxo contínuo de amor, partilha e suporte. O retorno dos círculos de mulheres é um resgate dessa ancestralidade, um lembrete de que não fomos feitas para maternar sozinhas.
No Lioness Mother Circle, recriamos essa vila—um espaço onde as mães e grávidas podem descansar, partilhar, aprender e crescer juntas. Onde o apoio não é um luxo, mas sim um direito inato de cada mulher.
Se sentes esse chamamento, junta-te a nós. A tua vila espera por ti. 💛🌿
Referências Bibliográficas
- Basson, R. (2000). “The Female Sexual Response: A Different Model.” Journal of Sex & Marital Therapy.
- Bolen, J. S. (1999). The Millionth Circle: How to Change Ourselves and the World. Conari Press.
- Diamant, A. (1997). The Red Tent. Picador.
- Eisler, R. (1987). The Chalice and the Blade: Our History, Our Future. HarperOne.
- Feldman, R. (2015). “The Adaptive Human Parental Brain: Implications for Children’s Social Development.” Trends in Neurosciences.
- Gimbutas, M. (1989). The Language of the Goddess. HarperCollins.
- Hrdy, S. B. (2009). Mothers and Others: The Evolutionary Origins of Mutual Understanding. Harvard University Press.
- Nelson, S. K. (2009). “Is More Always Better? Exploring the Effect of Maternal Support on Women’s Well-being.” Personality and Social Psychology Bulletin.