Abordámos este assunto numa recente publicação nas redes sociais sobre a amamentação e tínhamos mesmo de o desenvolver aqui no blogue na Tree of Life. É verdade que o cérebro da mulher muda na gravidez e no pós-parto, é verdade que há ‘funções’ que por serem menos necessárias à maternidade são secundarizadas, de forma muito inteligente pelo cérebro, de forma a dar primazia a outras. É nestas fases que ocorrem as mudanças mais drásticas no cérebro da mulher, ultrapassando as mudanças da fase adolescente. 

À capacidade do cérebro realizar estas alterações estruturais e funcionais chama-se neuroplasticidade ou plasticidade neuronal/cerebral, ou seja, os circuitos neuronais tornam-se maleáveis de forma a adaptarem-se e a eliminarem ligações desnecessárias entre as células cerebrais, para que o cérebro fique com mais recursos ao desempenho das funções da maternidade. Estas alterações neuroplásticas ocorrem no hipocampo e córtex pré-frontal e tem o nome de ‘poda sináptica’.

A atenção dada à neuroplasticidade – a capacidade do cérebro se alterar formando novas ligações – é recente apesar de ser um assunto estudado pela comunidade científica. Em 1971 a neurocientista Marian Diamond (1926-2017 EUA) verificou, após exames ao cérebro de ratos (machos, fêmeas – grávidas e não grávidas) usados numa experiência, alterações no tamanho do neocórtex de ratos fêmeas que tinham dado à luz. Outros estudos indicaram que essas alterações, nomeadamente redução da memória, podem manter-se pelo período de dois anos após o parto. 

Apesar do ‘cérebro de grávida ou de recém-mãe’ ser ainda e infelizmente encarado como uma incapacidade, como se o cérebro da mulher tivesse diminuído das suas funções, a verdade é que é este que dá capacidade à mulher de realizar várias tarefas ao mesmo tempo, recuperar do pós-parto, amamentar e cuidar do seu recém-nascido e outros filhos, se for o caso. 

Na realidade a grande capacidade plástica do cérebro da mulher permite-lhe uma maior habilidade de aprendizagem e de reconhecimento. Não é por acaso que a mãe se adapta rapidamente às alterações do seu bebé. Isto acontece dada a capacidade de reconhecimento dos sinais e das mudanças/evoluções do seu filho. Normalmente em casos de problemas de desenvolvimento é a mãe que detecta os primeiros sinais e comunica ao seu médico, mesmo que nunca tenha feito um curso pré-parto ou que nunca tenha lido nada sobre o desenvolvimento dos bebés. 

Além da capacidade de aprendizagem, a capacidade de amar incondicionalmente o seu filho também é apoiada pelo cérebro: neste caso o hipotálamo estimula a hipófise a libertar ocitocina e vasopressina, responsáveis por sentimentos de empatia e amor incondicional. Apesar da privação de sono, das dores da recuperação e amamentação, (a princípio) a mãe sente uma ligação e um amor fortíssimos pelo seu bebé. 

Resumindo, é graças à neuroplasticidade que na mulher há duas enormes capacidades que se agigantam, as de aprender e amar – learn and love. A mãe lê como ninguém a linguagem corporal do seu bebé, executa várias tarefas em simultâneo de forma eficiente, fica com os sentidos mais apurados (nunca repararam que uma mãe ouve o seu bebé chorar quando ninguém ouve?), poderá ter vontade de se isolar de multidões, fica mais relaxada, mais contemplativa, mais tolerante e isto para proteger e cuidar do seu bebé ao mesmo tempo que recupera do pós-parto e ‘suporta’ com a amamentação e a privação de sono. 

Já nos homens, esta neuroplasticidade pode ocorrer por contacto ou por experiência, ou seja, quando o homem passa tempo com o bebé e cuida dele. 

É tempo de elogiar as alterações do cérebro de uma grávida ou de uma mãe e não considerar que se trata de uma mulher incapaz e alheada do mundo. É certo que há um antes e depois da maternidade, mas como um processo de vida e de transformação que traz crescimento, maturidade e plenitude tanto na na alma como na raiz física do corpo. 

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